terça-feira, 16 de março de 2010

Mudanças à vista
por Aramis

Neste último domingo, às 21h, devido minha falta de atenção, fui parar na Estação Mussurunga. Voltava da casa de uma amiga, onde passei uma tarde agradabilíssima. Almoçamos juntos ela, eu e mais três amigos. Enquanto aguardava a chegada do ônibus para o meu bairro natal, percebi uma “invasão” no terminal. Juro! Eram mais de 50 rapazes, todos gays. Idades diferentes (apesar de prevalecerem os mais novos – 13/ 14 anos) em pontos diferentes da estação. Percebi que as pessoas olhavam meio estranho, mas nada comentavam. Alguns acotovelavam a pessoa ao lado e perguntavam “tá vendo?”. Até aí tudo bem, se até eu que sou gay achei estranho, pense os demais? Não lembrava de nenhum evento declaradamente Gay na cidade marcado para aquele dia, “mas acho que devem estar vindo da praia”, pensei, porém não percebi areia grudada na perna de ninguém...
Poucos minutos bastaram para que muitos começassem a “causar” em plena estação. Alguns gritavam, outros corriam com “as amigas”. Outros, um pouco mais discretos, caminhavam em busca de um lugar mais adequado para conversarem com o carinha com quem trocara olhares. Alguns mais comportadas apenas olhavam e comentavam entre si.
Eis que o inesperado acontece (inesperado?). Dois meninos bastante jovens, que estavam entre os que gritavam e corriam na estação, se beijavam abertamente. Na verdade eu nem vi quando começaram. Notei que duas meninas sentadas na calçada riam muito, ao tentar descobrir o motivo do riso, entendi o que ocorria.
Eu estava tão desligado do mundo apenas olhando o relógio que só vim perceber o que se passava muito tempo depois. Três mulheres atrás de mim protagonizaram o momento mais patético/ triste/ ignorante/ preconceituoso da noite. Duas haviam visto e apontavam para a outra que falou: “Vixe, é o fim dos tempos! Nem quero ver...”. Uma delas exclamou: “Ih, tá beijando mesmo!”, e a profética que não queria ver, pediu seus óculos em seguida para ver aquele “absurdo”.
Na fila, em minha frente, estava um rapaz de aparência simples que comentou: “Não vejo nada demais neles serem gays. O problema é a falta de respeito com quem está por perto. Homem beijando mulher em locais públicos também está errado”. Mesmo não concordando 100% com o rapaz, suas palavras foram muito mais sábias da noite.
Tudo isso nos mostra que o perfil do homossexual baiano vem sofrendo algum tipo de mudança. Ainda não posso afirmar nada, levando em consideração que, para isso, é preciso um estudo bastante aprofundado. Este “fenômeno” que aponta para uma mudança do perfil do homossexual, da família e da sociedade numa visão mais ampla, merece sim ser analisado. Acredito que em outros tempo, estes dois já teria sido espancados por algum homofóbico mais exaltado e a pessoa que vos escreve estaria emendando este texto com a narrativa do testemunho na delegacia.